A Origem do Profissional de Relações Públicas

De acordo com o Dicionário Profissional de Relações Públicas e Comunicação seria o “pai das relações públicas – o jornalista Ivy Lee” (ANDRADE, 1996:85). Ele inicia a prática do primeiro trabalho de relações públicas quando começa a trabalhar para John D. Rockefeller, em 1914 após a greve da Colorado Fuel and Iron Company (CHERNOW, 1998), umas das companhias da Standard Oil Company. É a partir deste momento que teremos o primeiro relações-públicas atuando profissionalmente (PERUZZO, 1986).


Como tudo começou 

John D. Rockefeller nasceu no dia 08 de Julho de 1839, filho do casal William A. Rockefeller e Eliza Davidson. Durante sua infância, John sofre devido às dificuldades de sua família. Seu pai foi uma pessoa ausente, e sua mãe, uma mulher disciplinadora que trabalhou para sustentar a família. Devido a isso, John e seus irmãos foram cuidados pela mulher de seu tio Jacob. 

Por conta dessa infância difícil, John se tornou um homem introvertido, sério e maduro. Logo cedo, com apenas 16 anos, começou a trabalhar como bibliotecário na empresa Hewitt and Tuttle. Todo o dinheiro que ganhava com o seu trabalho, fazia questão de ajudar a sua família, além de realizar doações à igreja batista que freqüentava. Três anos depois, John e seu amigo Maurice B. Clark abrem uma empresa de produtos alimentícios em Cleveland. Em 1859, Edwin Blake descobre o petróleo no oeste da Pennsylvânia. Este fato mudaria a vida de Rockefeller. Meses depois desta descoberta, Clark apresenta a John Samuel Andrews, um jovem químico que havia realizado uma experiência, que por meio da destilação do petróleo se obteria o querosene. 

Em 1863, os três amigos entram no mundo dos negócios, abrindo uma refinaria de petróleo. Dai em diante os negócios crescem. Ao final daquela década, John funda a sua própria companhia, a Standard Oil Company. A partir deste momento, John aumenta consideravelmente o seu império adquirindo mais e mais postos e refinarias. E em pouco tempo seu negócio o transforma em um dos homens mais ricos do mundo. Anos mais tarde, já em 1914, acontece um fato que destruiu de vez com a imagem de John Rockefeller: o Massacre de Ludlow, mais conhecido como “greve da Colorado Fuel and Iron Co”.

O Massacre de Ludlow 

Em novembro de 1902, John Rockefeller compra a Colorado Fuel and Iron Company por 6 milhões de dólares. No entanto havia um problema, como Rockefeller estava morando em Nova Yorque, ele nomeia Jesse Welborn como presidente e LaMont Montgomery Bowers como vice-presidente. É preciso salientar que o único contato direto que Rockefeller tinha com sua empresa era feito por meio das informações que eram enviadas por telegramas de Bowers. Só que Bowers não agiu com uma postura digna de confiança, como Rockefeller pensava. 

No dia 31 de janeiro de 1910, houve um acidente numa das minas de carvão em que morreram 79 trabalhadores. Porém, Bowers oculta o problema e manda um telegrama para Rockefeller avisando que a empresa estava bem. A condição de trabalho dos mineradores ficava cada vez pior. Eram péssimas as moradias dos trabalhadores, não havia nenhuma segurança nos locais de trabalho, os salários eram muito baixos e a carga horária de serviço era extremamente abusiva. Em setembro de 1913, os mineradores com o apoio da United Mine Workes of America entram em greve, e se instalam em um local próximo chamado Ludlow. As suas reivindicações eram: melhores condições de trabalho, melhores salários e redução da carga de trabalho. 

Welborn e Bowers com a intenção de acabar com a greve contratam a agência de detetives Baldwin-Felts, para que assim pudessem aterrorizar os grevistas e terminar com aquele processo. Bowers acaba perdendo o controle da situação. Em abril de 1914 a greve resulta uma guerra entre os homens contratados por Bowers e os grevistas. É um incidente gravíssimo e sangrento. O massacre é veiculado pelas grandes mídias. Rockefeller entra em crise com a opinião pública. A sua imagem é atribuída, entre outras coisas, como sendo um capitalista sanguinário. 

Neste polêmico caso, vale ressaltar que ele, em um primeiro momento, não sabia de nada do que estava acontecendo com a sua empresa. No entanto quando o massacre acontece, ele fica retraído e não presta nenhum depoimento à opinião pública. Eis que surge o primeiro profissional de relações públicas.

Ivy Ledbetter Lee 

Em maio de 1914, Rockefeller, preocupado com a imagem e a reputação de sua família, pede ajuda a um grande amigo, Arthur Brisbane, para conseguir reverter essa situação desfavorável em que se encontrava. Arthur recomenda a John que contrate Ivy Ledbetter Lee, pois ele acredita que este seria o único profissional capaz de melhorar a imagem dele e de sua família. Ivy Lee era um homem de 36 anos e atuava como assistente executivo do Presidente da Pennsylvania Railroad. Filho de um padre Metodista. Lee havia feito sua carreira na Universidade de Princeton. Era um jornalista e já havia trabalhado em dois jornais de Nova York: Hearst´s Journal e Pulitzer´s World. Pouco tempo depois, Lee deixou o campo do jornalismo e foi atuar nas relações públicas. Para ele esta área era promissora por ter ligações com o jornalismo investigativo e as relações diretas com o governo para a regulamentação de negócios. A primeira recomendação que Lee fez a Rockefeller foi: “conte a verdade, porque mais cedo ou mais tarde, o público irá descobrir de qualquer jeito”. (CHERNOW, 1998:584). Logo em seguida, Lee fez Rockefeller parar de andar com os guarda-costas. Essa atitude transmitia a imagem de um homem temeroso. Depois dessa mudança, ambos, Lee e Rockefeller, viajaram ao local do massacre. John pôde presenciar a realidade daquele lugar, e assim desculpou-se com seus trabalhadores, iniciando uma nova fase em sua empresa, retomando os valores humanos.

As Relações Públicas no Brasil

No início do século XX, o Brasil vivencia o período inicial da República. Era o momento da transição para uma sociedade industrial propriamente dita. Margarida Kunsch nos conta a respeito das relações públicas que “estas surgiram em nosso meio no dia 30 de janeiro de 1914. Nessa data, a empresa canadense de eletricidade The São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, hoje Eletricidade de São Paulo S.A (Eletropaulo), criou um departamento de relações públicas, tendo à frente Eduardo Pinheiro Lobo, patrono na profissão no país” (1997:19). As relações públicas surgem em 1914, no Brasil, por meio da criação de um departamento de relações públicas de uma empresa canadense. Esse é um fato muito importante porque é possível perceber que as relações públicas são apresentadas por uma cultura organizacional de uma empresa multinacional.

O Primeiro Profissional de Relações Públicas Brasileiro

Eduardo Pinheiro Lobo, o “patrono das relações públicas” no Brasil, nasceu no dia 2 de dezembro de 1876, na Cidade de Penedo, extremo sul de Alagoas. Aos nove anos de idade, após completar os estudos primários, é enviado pela família para o Rio de Janeiro para seguir carreira militar no Colégio Militar. Em 1896, depois de ter alguns problemas com a Revolta da Armada, ele abandona a carreira militar e segue para a Inglaterra onde irá realizar seus estudos e se formar em Engenharia. Depois de concluir os estudos, retorna para o Brasil e se fixa na Cidade de São Paulo. Começa a sua atividade profissional em uma indústria: a Fábrica Penteado, logo em seguida na Companhia de Gás de São Paulo. E, finalmente, em 1906, ingressou na The São Paulo Tramway, Light and Power Company Limited. No início de 1914, a Light percebe a necessidade de estabelecer um contato com a imprensa e com o governo. Entende-se que é preciso concretizar uma estrutura que fosse capaz de articular esse relacionamento da organização com esses determinados públicos-alvo para criar vínculos e manter a compreensão mútua. Nesse momento surge o primeiro departamento de relações públicas no país.

Décadas de 50 a 90

A década de 50 foi marcada por grandes acontecimentos na área de relações públicas. “Em 1951, a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, RJ, constitui o primeiro Departamento de Relações Públicas autenticamente nacional.” (KUNSCH, 1997:20). Nesse momento fica evidente que as empresas brasileiras começam a perceber a importância das relações públicas. No ano seguinte, “a primeira empresa seria a Companhia Nacional de Relações Públicas e Propaganda. Fundada em 10 de outubro de 1952, em São Paulo (...), ela foi pioneira na prestação de serviços de comunicação social no Brasil”. (KUNSCH, 1997:20)

Já em 1953, “o primeiro curso de Relações Públicas. Promovido pela Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas”. (KUNSCH, 1997:20)

Nesse período notamos que o mercado e a academia já convergiam suas forças na busca pelo desenvolvimento da área. Seria preciso a criação de uma associação que zelasse pelos objetivos daquela categoria. Eis que “na cidade de São Paulo, no dia 4 de março de 1954, reuniu-se pela primeira vez, o chamado Grupo de Relações Públicas, integrado por profissionais paulistas, com a finalidade de se discutir a criação de uma associação de Relações Públicas”. (ANDRADE, 2001:73)

E como era de se esperar, a reunião desse grupo seleto de relações públicas resultou que “em 21 de julho, é fundada em São Paulo, a ABRP” (KUNSCH, 1997:48). E graças a essa associação “criam-se os primeiros especializados e as primeiras assessorias de relações públicas e são lançadas as primeiras publicações na área” (KUNSCH, 1997:48).

A década de 60 é mais marcante e mais complicada de toda a história do Brasil. Temos o golpe militar de 64 que irá encarcerar o país em um pouco mais de vinte anos de uma das mais cruéis ditaduras de todos os tempos. A área de relações públicas sofreu com a ditadura porque tivemos “a criação da AERP em 15 de janeiro de 1968 (...), ela funcionou como uma verdadeira agência de propaganda política, para “vender” o regime autoritário de forma massiva, disfarçando a censura mais violenta que este país já teve” (KUNSCH, 1997:26).

E assim nós podemos notar que “a atuação agressiva dessa assessoria contribuiu para formar um conceito negativo da essência das relações públicas junto a formadores e multiplicadores de opinião, em um período tão conturbado da vida nacional” (KUNSCH, 1997:26). É importante frisar que essa assessoria não possuía nenhum profissional de relações públicas em atuação. Faziam parte da AERP “uma equipe de jornalistas, psicólogos e sociólogos” (KUNSCH, 1997:26).

Nessa época ainda temos “a realização no Rio de Janeiro, em 1967, do IV Congresso Mundial de Relações Públicas, que, entre outras coisas, definiu funções básicas e específicas da profissão” (KUNSCH, 1997:28).

Em 1967, “foi a criação do primeiro curso superior de relações públicas com duração de quatro anos, na Escola de Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo”. (KUNSCH, 1997:28).

Porém precisamos dizer que foi naquele tempo que ocorreu a regulamentação da profissão de relações públicas por meio da lei n° 5.377, de 11 de dezembro de 1967. Mas no entanto “deu-se de forma prematura, pois esta ainda não havia se firmado nem na teoria nem na prática, ou seja, não era reconhecida pelo meio acadêmico e pela sociedade” (KUNSCH, 1997:23).

A década de 70 foi marcada por uma sucessão de eventos que não se demonstraram bem-sucedidos na área da comunicação. Após a regulamentação das leis que determinam que só poderia exercer a profissão de relações públicas somente aquele que fosse bacharel em relações públicas, inicia-se um processo intenso de implementação e criação de faculdades de comunicação, em especial, os cursos de relações públicas.

Porém existem dois problemas nesse período: o número de cursos e faculdades se tornou maior do que a demanda de professores para ministrar as aulas nesses cursos e faculdades; os professores e os profissionais não estavam bem qualificados, até porque não existiam cursos no país que pudessem suprir as necessidades exigidas naquele momento.

Pode-se dizer que a década de 80 foi fantástica para a área de relações públicas. O regime militar já perdurava por muitos anos, e desde o final da década de 70 já apresentava sinais de transformação. É nesse período que temos a transição de uma ditadura militar para a democracia.

Surge um novo pensamento institucional. Agora com a democracia, a liberdade de imprensa estava assegurada. E os estilos de comunicação que haviam sido utilizados durante o regime autoritário precisariam e deveriam mudar.

Essa mudança exigiu não só do governo, mas também das organizações, uma postura diferente, porque agora tanto o governo como as empresas teriam que se comunicar com seus públicos por meio de uma comunicação ética e transparente. A nova postura seria o grande diferencial que estava surgindo para os profissionais de relações públicas, porque eles teriam que desenvolver e trabalhar a comunicação de maneira aberta, honesta, que deveria estabelecer a compreensão mútua entre uma instituição e os seus públicos vinculados de maneira clara e objetiva e acima de tudo respeitosa.

Decerto, a década de 90 é um momento muito especial para a área de relações públicas. A área inicia um processo de reflexão sobre a sua teoria e prática. Essa época é distinta porque temos a dinamização dos mercados econômicos e sentimos também as profundas mudanças produzidas pelo capitalismo e a globalização. Faz-se necessário que a profissão de relações públicas seja capaz de se adequar às novas tendências e necessidades do mercado.

São feitos inúmeros esforços para se pensar uma nova maneira de aprender, fazer e ensinar relações públicas para os alunos dos cursos universitários. Um desses esforços se constituiu pelo Parlamento Nacional de Relações Públicas que obteve as seguintes conclusões: a manutenção da profissão regulamentada; a revisão da lei 5.377, de 11 de dezembro de 1967; o incentivo ao registro profissional; o estabelecimento das funções de relações públicas, bem como o seu campo de atuação; e por último o controle e aperfeiçoamento dos cursos de formação superior.
A Origem do Profissional de Relações Públicas A Origem do Profissional de Relações Públicas Reviewed by Rafael on março 14, 2018 Rating: 5

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